Finalmente coloquei em prática meu desejo de um bom tempo- assistir ao último filme de Macross Frontier- "Sayonara no Tsubasa". O final esperado pelos fãs da série, onde Alto-kun finalmente iria sair do muro e escolher alguém- ou não.
Go go Sheryl! |
Ranka, devagar e sempre... |
Espere, nunca assistiu Macross F? (herege!) Eh eh... Basicamente o que era mais esperado nessa história era o desfecho do triângulo amoroso entre o piloto Alto Saotome, a "fada galática" Sheryl Nome e a nova cantora heroína Ranka Lee. As duas eram apaixonadas pelo ex ator de teatro kabuki e agora piloto de combate. Alto por sua vez jogava verde com as duas, ora pendendo para um lado, depois jurando proteger as duas com sua própria vida se preciso fosse. E essa enrolação durou todos os 26 episódios e um movie... Nada da coisa desenrolar. Até que em “Sayonara no Tsubasa”, finalmente...
Bom, pra quem ainda não assistiu e tem curiosidade, não vou contar quem foi a escolhida por ele, mas sim a emoção do momento e como isso se reflete em nossas vidas. Afinal de contas, por mais fantástica que seja a realidade de um anime, ela nada mais é que a nossa própria existência, nossos dramas e alegrias retratados numa visão diferenciada. Muitas e muitas vezes nos vemos ali naquele personagem. Ele nos representa, nós nos vemos do lado de fora...
O final de Sayonara no Tsubasa me deu um frio na barriga. Triste, bonito e tão verdadeiro. A mensagem que ficou pra mim se baseia em questões "do que escolher" e "quando".
Será que muitas vezes não demoramos demais para escolher os caminhos? E quantas vezes sequer conseguimos fazê-lo? As vezes o amanhã pode ser tarde demais, e ficamos perdidos, porque nem sempre há tempo...
Quantas oportunidades você perdeu por simplesmente não ter dito nada? Quantas pessoas você machucou sem querer, só porque não disse o que era preciso? Ou pior, porque disse a coisa errada e não tentou resolver o problema? Quantas situações e momentos importantes foram perdidos porque você achou que daria tempo, poderia ficar pra depois e então descobrir ser tarde demais?
Quando comecei a pensar no assunto, já madrugada afora, relembrei de um pedaço da minha história que se encaixa nas questões das palavras e atitudes que tomamos vida afora...
Tinha uma amiga muito especial nos tempos de faculdade, e ela sempre dizia que quando o curso terminasse todo o nosso círculo de amizade iria se dispersar. Cada uma seguiria um caminho diferente pela vida, com mudanças de cidade, novos objetivos... E a amizade acabaria ali. Ela sempre dizia isso com muita convicção, quase como uma sacerdotisa dizendo o futuro com chance de erro zero. Eu sabia que aquilo seria muito provável de acontecer. Era o caminho natural. Mas que poderia ser evitado com esforço. Afinal, cultivar uma amizade é muito mais que ter apreço por uma pessoa. É lembrar disso algumas vezes. É dizer ao amigo que você o considera importante, ligar de vez em quando, ajudar nas horas difíceis...
Quando terminamos a faculdade, me mudei de estado. Claro que a tendência era entrar num ritmo frenético de trabalho e outros afazeres e simplesmente deixar o resto para segundo plano. Então eu tinha que me lembrar das palavras da minha amiga e não deixar os nossos laços de amizade se afrouxarem nem um pouco.
O que resolvi fazer foram coisas simples. Um recadinho no Orkut de vez em quando. Simples, NE? Mas o bastante. Era sempre manter o vínculo, mostrar o quanto ela era importante para mim.
Passado um tempo consegui visitá-la. Coisa rápida, ela estava trabalhando. Mas pelo menos um abraço e dizer “que saudades!” eu consegui. Aquele encontro rápido foi como uma recarga nas baterias. Pronto! E combinamos um próximo encontro com mais tempo, quem sabe até um churrasco, uma visita sem tão poucos minutos de duração...
Alguns meses depois planejei voltar, mas por diversos fatores não consegui. E então leio um recado onde ela diz que está doente e vai se ausentar por alguns dias até se recuperar. No mesmo instante mandei mensagens de apoio e reafirmei meu compromisso de visitá-la.
Uma pena que ela não leu a mensagem. Em poucos dias sua saúde piorou e ela acabou falecendo.
Nem preciso dizer o choque que senti ao receber a notícia. Parecia mentira. Não ela.
Era verdade, ninguém em sã consciência brincaria com isso.
“Eu não consegui vê-la mais uma vez!” - Foi meu primeiro pensamento. Eu prometi e não consegui cumprir a promessa. Eu sequer soube que ela tinha sido internada em um hospital. Eu falhei em encontrá-la de novo. Eu não estava lá para ao menos dizer mais uma vez que eu iria ficar ao lado dela até tudo acabar...
Depois disso, claro, o pensamento de revolta... Para mim ela era a pessoa que merecia morrer bem velhinha, aproveitar a vida ao máximo, realizar todos os sonhos... Injustiça sem tamanho alguém morrer sem alcançar os sonhos...
Chorei muito, até mesmo nesse instante confesso que é difícil não deixar me levar pela emoção e cair em prantos. Mas entre a tristeza e a saudade eu consigo me lembrar... Não tenho arrependimentos em relação a nossa amizade. É verdade que não consegui visitá-la quando gostaria, mas o resto... Eu consegui cumprir as promessas que fiz. Eu disse inúmeras vezes que ela minha amiga e que eu a admirava profundamente. Mesmo longe, jamais esqueci de lembrá-la disso. Nos momentos de dificuldade eu fiz tudo que estava ao meu alcance para tentar ajudá-la. E principalmente... Pedi desculpas quando errei. Consertei os erros, para que sempre pudesse olhá-la de frente e ser digna de sua amizade. Hoje sinto uma saudade imensa, mas carrego comigo uma sensação de dever cumprido. Sei que dentro do possível eu disse e agi de maneira justa e honesta. Nada ficou para trás, e a nossa amizade foi sólida até nosso último encontro, nossa última mensagem...
E você? Tenho certeza que já omitiu alguma coisa por vergonha, por medo, por achar que poderia ficar para depois... Escute... Nem sempre o depois acontece. Às vezes tudo vai acabar naquele exato momento, mas infelizmente não há aviso prévio... Aquele encontro casual que você acha que vai se repetir por mais uma centena de vezes pode sim ser o último. Aquele pedido de desculpas que você não acha tão importante poderia ter sido fundamental, mas você não entendeu isso... Não digo para você abrir seu coração e consertar as coisas porque amanhã a morte pode tirar alguém querido de você. Não é só a morte que leva as pessoas embora. As palavras também fazem isso. Coisas ditas e omitidas afastam as pessoas. Um xingamento naquele dia de mau humor, um sentimento que você não revelou por vergonha ou outro motivo qualquer, um ato egoísta da sua parte... Tudo pode resultar no afastamento das pessoas. Para sempre? Só por um tempo? Claro que tudo é relativo. Mas quanto pior o sentimento, mais amargura e mais dificuldade em refazer as coisas...
Macross F e tantos outros animes mostram a realidade das nossas vidas, independente de quem somos. Tanto faz se ao invés de uma cantora intergalática você só desafinar no chuveiro. As emoções são as mesmas. As palavras tem a mesma força. E o mais importante- elas não voltam. Uma frase errada, uma palavra a mais (ou a menos) e tudo pode desmoronar. Ou pode não haver mais tempo...
Hoje eu daria tudo para poder ver minha amiga mais uma vez. Poder cumprir a promessa do nosso encontro de férias! Nosso churrasco, quem sabe umas fotos de recordação... Coisa simples, mas que eu nunca mais vou poder fazer, porque ela simplesmente não existe mais nesse mundo. Fisicamente, porque ela vive no coração de todos os amigos e familiares. Mas a minha mensagem não vai poder mais chegar até ela. Eu posso gritar a plenos pulmões que ela foi uma das pessoas mais honradas que eu conheci até hoje, que seu caráter era inigualável... Mas ela não vai mais ouvir...
Então aproveite... Há muitas pessoas que gostariam de ter ouvir e te ver! Mande uma mensagem via facebook, Orkut, celular... Ligue pra alguém, faça as pazes, construa uma nova recordação hoje, que tal? É sempre bom dizer que se ama alguém, seja qual for essa forma de amor. Não perca tempo, pode ser tarde demais... Não se arrependa, faça o que for necessário. Não seja derrotado pelas palavras ou a simples idéia de “depois, agora não...”. Lembre-se sempre que amanhã pode ser tarde demais...
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