Tia, pergunto de novo... Precisa ter assistido a mais um episódio desse dorama pra entender o post?
Não meu filho! Se joga!
Juui Dolittle é um dorama que mexe muito comigo. Primeiro porque eu gosto muito de animais, e ver tantos bichinhos bonitinhos, fofinhos e todos os "inhos" me deixa sempre com vontade de ver mais um episódio.
Mas o principal motivo é a identificação pessoal com os personagens da trama e suas histórias. Particularmente a relação entre um pai e seus filhos. Parece que eu estou ali!
Domon, o marvadon! |
Na trama, Domon-sensei é um pai rígido, de poucas (nenhuma!) palavras. Olha os filhos com desprezo, ao mesmo tempo que exige deles uma perfeição absoluta. O mais velho é seu sucessor numa clínica veterinária famosa e muito próspera, o caçula ainda é estudante do segundo grau. No trabalho, o filho mais velho se esforça horrores tentando ser um profissional do qual o pai se orgulharia. Uma mendicância silenciosa por um elogio- algo inédito na vida dessa pobre criatura. Mas o elogio nunca vem, pelo contrário. O filho é sempre tratado como um incapaz pelo pai. Todo e qualquer esforço é simplesmente inútil. Durante o trabalho ele é criticado pelo pai carrasco, na frente de todos os funcionários. O filho, claro, foi acumulando revolta, dor e ódio por toda uma vida...
O filho mais novo tenta seguir os passos do pai e também se tornar um veterinário de renome. Pra isso, estuda e estuda like hell. O rapaz é número um em notas no país! E quando foi dar a notícia pro pai, o que ouviu? O clássico "É, isso é o mínimo pra não me decepcionar né?" Como se fosse a coisa mais natural e nada mais que obrigação. O pobrezinho só abaixou a cabeça como um cachorrinho que abanou o rabo, fez festa mas o dono passou direto por ele.
O pobre filho injustiçado |
No oitavo episódio a casa caiu. Tanto ódio acumulado fez com que o filho mais velho ficasse rebelde e tentasse atrapalhar a reputação do pai. O quase escândalo fez com que finalmente o pai desse atenção ao filho, pena que dessa maneira:
Porrada pura e aplicada |
Mas desgraça pouca é bobagem, já dizia minha avó... Depois do caldo entornado, ainda veio mais uma pro pobre coitado.
Pra muitos a cena passou até batido, foi um momento "ô tadinho dele né", mas pra mim, em especial, foi perfeito. Eu digo isso porque, dadas as proporções, meu pai é um Domon-sensei. A única diferença é que não apanhei assim (ainda bem, né!!!) Mas sempre fui rejeitada, tratada como um desprezo e um sarcasmo mordaz. Ao lado do Domon sinto que não valho nada, e o filho de qualquer outro é sempre infinitamente melhor que eu em qualquer aspecto. Como não trabalhamos juntos, nem assuntos de trabalho conversamos, portanto sequer dirigimos a palavra um ao outro. Só em casos extremos como passar um recado ou coisa do tipo. Resumindo, a palavra que descreve a minha situação e a do personagem do dorama é REJEIÇÃO. Ela vem, na maioria absoluta, em atitudes, comportamentos diários. Ficar por semanas a fio sem trocar palavra, desconhecer quem você é ou o que acontece em sua vida. Em outro momento, talvez o pior deles, é quando essa rejeição se condensa em PALAVRAS. Quando elas são ditas, é a assinatura registrada em cartório, carimbada e amarrada do seu fracasso. O atestado de óbito da relação que já vinha em coma profundo há muito tempo.
A cena em questão de Juui Dolittle mostra a dor desse momento em câmera lenta. Os dois lados da história. O segundo em que a frase sai da boca do carrasco e atinge a pobre vítima, que fica ali, perplexa com o coração ferido de morte.
O papai querido chega pra ler o seu jornalzinho e não vê o filho do lado de fora. Senta, conversa fiado e diz com a maior naturalidade ao filho mais novo que o irmão é um inútil.
Nessa hora começa a cena em câmera lenta. A bomba foi lançada. Uma música triste, e a expressão do filho que tentou, a vida inteira, ser digno do pai. Ser elogiado, ser importante. Tudo em vão.
Toda uma vida de esforço e dedicação quase canina acabam ali. Pra quem ouve esse tipo de coisa da pessoa que mais deveria ama-lo na vida, as palavras não vão embora. Continuam ecoando. Um arrepio sobe pela espinha, e a dor gruda na alma que nunca mais sai. Não adianta mais ficar dizendo pra você mesmo que as coisas vão mudar e um dia você vai ter um pai que enxergue quem você é. Que vai admirá-lo, ser gentil e se preocupar. Esqueça. Acabou tudo ali.
Opa! No segundo em que ele disse as palavras tão maravilhosas, notou que o filho estava do lado de fora e ouviu tudo. O que temos na imagem acima deve ser um instante de 0,00087% de arrependimento. Mas que em todo pai maldito e carrasco, é esquecido com a mesma velocidade com que é despertado.
As palavras não tem volta, isso é verdade. Mas por um instante imaginei, ao ver essa expressão de Domon-sensei, que ele faria algo pra amenizar o estrago. Ficou claro que ele queria ter dito que o filho era um inútil, mas que o mesmo não ouvisse isso. (Dá quase no mesmo, né?)
Muito pelo contrário. O segundo de arrependimento gerou, no máximo, uma contração muscular leve na testa. Hora de levantar e sair da sala.
Uma salva de palmas para o diretor dessa cena. A saída do pai e o olhar do filho. Os dois percorrendo caminhos diferentes para o resto da vida, com uma parede intransponível e invisível entre eles. Domon-sensei com austeridade e desprezo vai embora e deixa o filho para trás. Ele sai da sala e da vida de seu filho. O resquício de esperança e dedicação ao pai acabaram ali. O ódio está oficialmente declarado.
Um grito desesperado. É só o que resta.
A vida imita a arte, a arte imita a vida... Lógico que se pudesse, tudo seria lindo e fofinho, mas quem disse que todo mundo pode ser feliz em todos os aspectos? Só nos resta ter força e perseverança pra fazer desses Domon-sensei malditos que entram em nosso caminho uma maneira de evoluir nos tornarmos pessoas melhores. Diferentes daquelas que nos fazem sofrer e insistem em atrapalhar nosso caminho. Tem muita gente boa no mundo, que valem a pena ter nossa amizade, amor e dedicação. Que essas pessoas ingratas e medíocres fiquem largados num canto qualquer, e bola pra frente!
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