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sábado, 1 de janeiro de 2011

"Quem tem medo da música clássica?"

Por ser considerada uma pessoa de gostos exóticos a criatura otaku costuma ser hostilizada pelos "meros mortais", especialmente aqui no Brasil. Gostar de anime e mangá é visto ainda como algo estranho por muitos. Cosplay?Aprender japonês... E ouvir música japonesa? É o auge do bizarro.

Mas quer saber? Quando me perguntam o porquê de gostar da cultura japonesa e me distanciar tanto da "produção contemporânea" brasileira, nem preciso de muitos argumentos. Vamos nos ater à música brasileira atual... "Rebolation"? "créu"? Garotinhos que acham que sabem fazer rock? Letras chulas e de rima pobre, feitas para consumo imediato.  Por mais que o cenário pop japonês esteja cheio de coisas AKB48 style, nada se compara ao lixo musical não-reciclável sendo produzido em progressão geométrica em nosso país.

É por essas e outras que gosto de música japonesa e abomino muito do que é produzido atualmente pelos nossos "artistas". Mas muita calma! Não sou odiadora de música brasileira até o último acorde. Odeio música sem qualidade. Defendo o mínimo de criatividade nos arranjos, uma letra que não faça corar até presidiário de Bangu V. 

Adoro música antiga. Daquelas lá da Tropicália. MPB. Cantores que não estão no mainstream. Daqueles que assinam contrato lá com a Biscoito Fino, que passam desapercebidas pelo povão. Badi Assad, Bebel Gilberto. Qualidade. Da geração mais nova é preciso garimpar muito. Mas daí não vou ficar apontado meus queridinhos e dizer que o resto é lixo. É lixo pra mim, mas tenho que admitir- música de verdade, no fundo no fundo, é aquela que causa o arrepio. Que te remete a algum lugar, algum sentimento. Pode ser um pagode daqueles de enésima categoria ou um sertanejo chora-corno. Se tem sentimento, se causa o frio na espinha, essa é a música do coração, e pra quem tem a emoção despertada por ela, de nada adianta apontar que o arranjo é pobre ou as rimas estão abaixo da linha da miséria. Gosto não se discute, afinal.

Mas e quanto ao título do post?

Dei uma volta danada pra mostrar que entre outras coisas, existe ainda um grande "medo" da música clássica. O nome aliás, vem do programa exibido na Tv Senado e apresentado pelo Senador Artur da Távola. De maneira simples ele desmistificava o pseudo-elitismo da música erudita. Música é música em qualquer lugar. A questão brasileira em classificar a música clássica como "das elite" vem da pura falta de acesso à mesma. Qual é mais fácil para pessoas de baixa renda: comprar um  CD de pancadão por 5 real no camelô ou ir ao teatro assistir a Orquestra Sinfônica? Ainda que a entrada seja franca, a exibição seja no parque municipal ou coisas do tipo, a aura de "proibido para pobres" é espessa! Nem vou tentar decifrar as raízes do distanciamento das classes populares da música clássica, mas cito uma: nas cidades menores, por exemplo, existe ao menos uma escola de música aberta à população? Um teatro? Uma exibição qualquer de uma peça teatral? Um cinema?
Paro com a discussão. A falta de incentivo à cultura é um divisor de águas entre um povo e o que pode ser oferecido. É um engano monstruoso dizer , por exemplo, que os moradores de uma favela só gostam de funk e pagode.  João Carlos Martins, ex pianista e hoje regente em são paulo, levou a música clássica a crianças no morro. A educação musical tira as crianças da criminalidade, as exibições encantam a todos. Aposto que 9 entre 10 pessoas que torcem o nariz para a música clássica hoje, se tivessem sido apresentadas a ela mais cedo, com certeza teriam ao menos um compositor favorito em meio aos seus CDs de sertanejo e forró. 

Diferente do nosso Brasil varonil, em que iniciativas isoladas produzem resultados, no Japão a coisa é grandiosa, inteligente e acerta em cheio. A Yamaha Music Media quer fazer da ópera algo mais interessante e voltada para o público mais jovem. Oito obras serão adaptadas e  lançadas em versão mangá.  Nomes como Wagner, Mozart e Bizet agora vão "parar na boca do povo". Olhe só!

Turandot (esquerda) e Madame Butterfly



 Outras obras e seus respectivos ilustradores:

Carmen – Bizet
Rumi Kizawa

La Traviata – Giuseppe Verdi
Motsuko

Madame Butterfly – Giacomo Puccini
Kaoru Kobayashi

Turandot – Giacomo Puccini
Aiko Sadakane

As bodas de Fígaro – Wolfgang Amadeus Mozart
Eijun Hinode

A flauta mágica – Wolfgang Amadeus Mozart
Broccoliko

Die fliegende Holländer – Richard Wagner
Seiko Yamada

Aida – Giuseppe Verdi
Kaoru Kobayashi
Carmen, o primeiro lançamento

Nem preciso dizer o quanto fiquei feliz com a ideia. Já dei pulos de alegria quando o mangá de Nodame Cantabile estourou e levou o conhecimento da música clássica a milhares de otakus mundo afora... Esse projeto de popularização da ópera é simplesmente sensacional.  Se pra muitos a ópera se resume a criaturas bufantes e que gritam em agudos destruidores, com certeza já passou da hora de rever os conceitos... Nada melhor então que usar uma arte para ensinar outra, não é? Bravissimo!
Assim que conseguir essas preciosidades vou postar aqui para download! Por enquanto, se você ainda "tem medo" da ópera ou mesmo se já aprecia, fica o vídeo com um trecho de Madame Butterfly- "Un bel di, Vedremo" (Um belo dia, Veremos). Os fãs  de ópera parecem aqueles otakus super advanced, disputando o lugar sagrado como a melhor intérprete dessa obra. Pra mim, hoje e sempre Maria Callas. Em segundo lugar a chinesa Huang Ying, que atuou na versão adaptada para o cinema. Confira!



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