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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Eu te amo Japão, mas não faça isso!

Todo mundo que convive comigo sabe que eu amo o Japão mais que qualquer outro país do mundo mundial, da galáxia e do planeta. Sempre digo que, se houvesse perfeição, o Japão talvez seria o que mais se aproximaria desse patamar supremo. Rasgo elogios, babo, fã de carteirinha mesmo.


Mas é claro que tanta admiração não pode deixar que as falhas sejam ignoradas, varridas para debaixo do tapete. Existem algumas coisas que me incomodam na sociedade japonesa, MESMO sabendo que é uma questão cultural divergente do meu país. Que eu não posso analisar na visão de uma brasileira. Eu sei, mas mesmo assim isso me incomoda. Vejam só...


Homens x Mulheres

A primeira e mais importante pra mim ainda é o papel da mulher na sociedade japonesa. É claro que houve uma evolução tremenda desde quando ela podia só andar atrás do homem até os dias atuais, mas ainda existem patamares muito desiguais entre homens e mulheres. O mercado de trabalho ainda prioriza a mulher que, ao casar e ter filhos, que fique em casa cuidando de tudo- o marido é que trabalhe e sustente a casa. Á mulher cabe o papel de educar os filhos e manter o lar. Portanto, o mercado de trabalho nas empresas mais tradicionais fecha as portas para as mulheres nessa situação. Isso sem falar na questão salarial, coisa que afeta até nós mulheres aqui no Brasil varonil... E por aí vai...

Bihaku

No Japão, ter pele branca é o que há. Mulher bonita de verdade tem aquela pele porcelana que remete às gueishas. As adeptas da cultura Bihaku fazem de de tudo pra alcançar a perfeição da cútis. Pra isso vale fugir do sol feito o diabo da cruz, expor o mínimo do mínimo de pele durante o verão e usar Kyusoku Bihaku. O nome é de um complexo que promete, entre outras coisas, inibir a produção de melanina, deixando a pele mais branca com o uso contínuo do produto.
Acredito que ninguém mais ama a cultura do bihaku que eu. Aqui no Brasil eu fujo do sol mesmo! Uso sombrinha, protetor solar 50, não vou à praia, não uso roupas curtas no verão pra não marcar a pele e etc e talz.

Se você ama tanto ser branca, por que colocou isso como algo que não gosta na sociedade japonesa?

Amo ser branca não por preconceito racial. Amo ser branca porque detesto marquinha de biquini, detesto ter a pele toda manchada, descascando, vermelha e acima de tudo, sofrendo os efeitos da radiação ultravioleta desse nosso país tropical. Detesto detesto calor, principalmente ficar deitada na praia feito lagartixa ao sol pra tentar ganhar um bronzeado saudável. Isso não é pra mim. Também não uso produtos pra ficar com a pele mais branca, embora adoraria ter a textura de porcelana! O que me faz preocupa é a obsessão japonesa pela aparência. Questão cultural de novo, eles amavam as gueishas, lá lá lá. Não vou discutir esse ponto. Mas a aparência não é tudo. Se eu não tenho a pele bihaku tabajara não mereço fazer parte de um círculo social? Devo ser sumariamente excluída e é isso aí?

Interessante para um olhar brasileiro é notar a diversidade andando de mãos dadas no Japão, mesmo me parecendo que todas as tribos fazem "rodinhas" e se separam umas das outras. Se ser branco neve é o que há de chique, o que uma pessoa negra faz quando chega ao Japão? Será que existe um preconceito racial velado como no Brasil? 

Peso


Takagi Reni
E por último mas não menos chocante, a questão da aparência se mostra muito marcante no peso. Ora, isso é global, né? Todo mundo tem que ser magro senão é aberração da humanidade. Tá certo, isso é fato. Mas não sei se todos os países calculam um "fator de peso de ídolo" e submetem integrantes de grupo pop a uma pesagem em público, néan...
Aconteceu no Japão, e muito provavelmente arruinou psicologicamente uma idol. E olha que isso é só uma amostra grátis do que a indústria japonesa é capaz de fazer com seus artistas...

A universal music promoveu em Março uma assinatura pública de contrato com o grupo idol Momoiro Clover, com a presença de 150 fãs. Entre outras coisas, as moças tinham que se pesar em público e atingir um peso chamado de ideal, ou "peso idol", para poder estreiar como  contratadas... Maravilha né... Todas foram aprovadas, menos uma- Takagi Reni. A mocinha estava 0,8 kg acima do limite idol permitido. Presta atenção gente- 800 graminhas! O que isso quer dizer? HUMILHAÇÃO PÚBLICA! 800 gramas significariam o fracasso no sonho de ser uma idol. A boa notícia é que a gravadora foi super legalzinha e deu uma nova chance pra pobre gorda do grupo. Em dois meses ela foi reavaliada e entrou pro grupo.

E todos foram felizes para sempre né? Né?

Qual das duas você acha que é a Takagi???


Escolha a sua alternativa: bulimia, anorexia ou as duas? Tá aí o resultado.  Depois da vergonha, claro que a pobrezinha parou de comer né? Não precisa ser um gênio da psicologia pra entender os efeitos devastadores de ser praticamente expulsa do paraíso por causa de míseras 800 gramas.  Quem ela é ou o talento que possuir de nada vale se a balança acusar que o padrão idol não está sendo seguido. Padrão idol... Padrão idiota, isso sim! É absolutamente revoltante, imperdoável. Por acaso a menina ia ser modelo internacional? Tinha que ser magra-cabide? Eu confesso que também surto se engordar, e sempre estou abaixo do IMC esperado para minha altura e peso. E me coloquei no lugar da Takagi-san. Se eu passasse por isso, seria a maior humilhação da minha vida. "Eu valho o que peso, e portanto sou inútil se passar do máximo estabelecido." Acho que nunca mais comeria direito na vida, e ia sofrer muitíssimo. 

Agora pronto- a foto acima é do mês de Novembro, e os fãs estão preocupados com o peso atual de Takagi. Ninguém é bobo é chegou à fonte do problema. Parabéns Universal Music, vocês destruiram a auto-estima de uma jovem. E agora? Provavelmente vão esperar o declínio da saúde, a saída do grupo, colocar panos quentes até o ponto em que não vai haver saída... Depois um engravatado qualquer vai pedir desculpas publicamente em nome da gravadora e tudo estará bem de novo.  Tudo estará muito "bem", já que Takagi é só uma integrante qualquer de um grupo idol qualquer. Uma peça perfeitamente substituível a qualquer momento. Claro que ela não é um ser humano, muito menos um ser humano cuja imagem foi ridicularizada e reduzida a nada por causa de uma equação de peso idol.

Japão, eu te amo, por isso não pise na bola comigo desse jeito, onegai shimasu.




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